quinta-feira, 3 de março de 2011

Milagre em Cabo Frio: oferta sem demanda

Os prédios comerciais e residenciais pipocam no centro da cidade e nos bairros. Na revista Cidade-online (www.revistacidade.com.br) há o artigo “Demolição no Sabadão” comentando a demolição do imóvel localizado na Rua Raul Veiga, anexo à Paróquia Nossa Senhora da Assunção, proprietária do prédio. A demolição foi iniciada sem aguardar a emissão da licença da prefeitura. O artigo deve ser lido. Cristina Ventura, diretora do Instituto Municipal do Patrimônio, comentou que recebeu uma denúncia da retirada do telhado e acionou os órgãos municipais conseguindo o embargo da demolição. Quando a ordem de embargo chegou, todo o corpo do imóvel já estava no chão restando apenas a cozinha e um pequeno anexo nos fundos.

            Vamos parar com o fingimento e admitir que, obviamente, a prefeitura sabia que a demolição iria acontecer. A pressão do setor imobiliário em Cabo Frio é de tal ordem que nem mesmos os padres resistem a tentação de receber a grana preta que é oferecida pelo setor. O grupo de mandachuva desse setor é formado por gente local desesperada em encontrar meio de sobreviver numa cidade onde 90% da população economicamente ativa tem renda média per capita mensal de menos de meio salário mínimo. Uma família de quatro pessoas está sobrevivendo com menos de R$1.100 por mês e, obviamente, nesses 90% não estão os que comporiam o mercado que se interessaria na compra dos imóveis que pipocam pela cidade.

            Esse bando de mandachuvas, cínicos, que só se preocupam com a própria sobrevivência, tornou real o personagem criado por Chico Anysio, o deputado Justo Veríssimo, que dizia “Eu quero mais é que pobre se exploda”. Pois é o que acontece em Cabo Frio: o setor imobiliário vem dizendo para sua população “queremos mais é que vocês se explodam”.

            Não há demanda para as unidades que são ofertadas, mas o que há é uma disputa para conseguir se tornar um cotista nos empreendimentos que são divulgados usando o sistema do boca-a-boca ou pela Internet. No caso do prédio demolido da Rua Raul Veiga algum mandachuva mandou o recado: “Podemos comprar o prédio ao lado da igreja, demolir a coisa e no lugar erguer um prédio; é uma excelente oportunidade para colocar dinheiro que não pode ser depositado em banco e sempre aparecerão trouxas que irão pagar R$5.000 por metro quadrado numa sala comercial no centro da cidade; se não vender, tudo bem; o que interessa é colocar o dinheiro num lugar onde não possa ser rastreado quanto à sua origem”.

            Não vai adiantar se algum membro do grupo de mandachuvas na cidade telefonar para a editora desta revista exigindo que este artigo seja retirado do ar. Se acontecer, este artigo será enviado para vários blogs e espalhado pelo Brasil. Algum dia um promotor público irá tomar ciência da bandidagem que tomou conta da cidade de Cabo Frio e esses mandachuvas irão desfilar de cabeça baixa, algemados, entrando num camburão da polícia para serem devidamente enjaulados com feras nocivas à população deste município.

02/03/2011
Ernesto Lindgren

Ver: "Com a palavra o censor"
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