Tive uma dificuldade enorme de encontrar dados sobre as condições de vida das classes trabalhadoras na Região dos Lagos. Não foi fácil dar uma de Engels dos trópicos. Dados básicos como o índice de desemprego, população economicamente ativa (PEA), total de trabalhadores com carteira assinada, etc, não são encontrados nos sites das prefeituras. De posse desses números poder-se-ia elaborar políticas públicas de trabalho e renda. Mas é claro que os prefeitos não estão nem um pouco preocupados com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores da nossa Região. Não poderia ser diferente, porque está evidente que estes prefeitos- e os números provam isso- não governam para a maioria da população. Representam oligarquias.
Dados do IBGE provam que o salário médio mensal dos trabalhadores vem caindo em todos os municípios da Região dos Lagos, exceto em Rio das Ostras (que apesar de não pertencer à Região dos Lagos, aparece sempre em nossos estudos, tanto pela proximidade quanto pela importância do município), onde houve crescimento. Isso é preocupante porque revela que nossos trabalhadores não vêm sendo aquinhoados com as parcelas que lhes cabem do desenvolvimento econômico dos municípios da Região. Por trás desses movimentos se esconde um grande processo de concentração de renda. Com a grata exceção de Rio das Ostras. A gestão deste município tem lições a dar. Por sinal é o único município da Região com Orçamento participativo.
Arraial do Cabo é o município em que a queda foi maior. O salário médio mensal despencou de 3,1 salários-mínimos em 2006 para 2,1 em 2009. Um processo econômico contribuiu para isso: o aumento brutal do desemprego. Os índices devem estar beirando os 50% ( e não só em Arraial). Se no ano de 2000, segundo o IBGE, Arraial do Cabo tinha um índice de desemprego de 12,34% (1.390 pessoas desocupadas uma População Economicamente Ativa (PEA) de 11.261), nove anos depois, em 2009, o número de pessoas ocupadas em vez de aumentar, diminuiu de 9.871 para 4.473. Ou seja, 5.398 pessoas perderam o emprego. Fora o número de trabalhadores surgidos do aumento populacional, já que a população total de Arrraial passou de 23.877 (2000) para 27.715 (2010). Um outro processo- na contra-mão dos outros municípios- contribuiu para frear um pouco essa desvalorização: a informalização das relações de trabalho. Arraial do Cabo foi o único município da Região, nesse período, em que houve diminuição do número de trabalhadores com carteira assinada. Dos 9.871 ocupados em 2000, somente 4.174 (42,28%) tinham carteira assinada. Em 2009, esse número caiu para 3.614.
Araruama, Cabo Frio, Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia, como Arraial do Cabo, tiveram diminuição do número de pessoas ocupadas entre 2000 e 2009, mas a desvalorização do salário médio mensal foi contrabalançada com o aumento da formalização das relações de trabalho (carteira assinada).
Araruama
O salário médio mensal do trabalhador de Araruama permaneceu praticamente o mesmo. De 2,0 salários-mínimos em 2006 caiu para 1,9 em 2009.
Em 2000, segundo o IBGE, Araruama tinha um índice de desemprego de 18,77% (7.099 pessoas desocupadas de PEA de 37.802). Em 2009, o número de pessoas ocupadas em vez de aumentar, diminuiu de 30.703 para 18.195. Ou seja, 12.508 pessoas perderam o emprego.
O número de trabalhadores com carteira assinada subiu de 10.497 (2000) para 15.576 (2009).
Cabo Frio
O salário médio mensal do trabalhador de Cabo Frio despencou de 2,6 salários-mínimos em 2006 para 2,1 em 2009.
Em 2000, 9.827 (16, 83%) pessoas estavam desocupadas de um PEA de 58.366. Em 2009, o número de pessoas ocupadas diminuiu de 48.539 para 39.933. Ou seja, 8.606 pessoas perderam o emprego.
Em 2009, o número de pessoas com carteira assinada subiu de 18.307 (2000) para 33.607.
Iguaba Grande
O salário médio mensal do trabalhador de Iguaba Grande praticamente permaneceu o mesmo. Oscilou de 1,9 salários-mínimos em 2006 para 1,8 em 2009.
Em 2000, Iguaba Grande tinha um índice de desemprego de 15,79% (1.064 pessoas desocupadas de uma PEA de 6.737). Em 2009, o número de pessoas ocupadas diminuiu de 5.673 para 3.224. 2.449 pessoas perderam o emprego.
Em 2000 somente 1.507 (26,56%) tinham carteira assinada.
Em 2009, esse número subiu para 2.688.
São Pedro da Aldeia
O salário médio mensal do trabalhador de São Pedro da Aldeia caiu de 3,6 salários-mínimos em 2006 para 3,3 em 2009.
Em 2000, o desemprego era de 7,45% (4.711 pessoas desocupadas de uma PEA de 28.450. O número de pessoas ocupadas, em 2009, diminuiu de 23.739 (2000) para 12.285.
Somente 8.917 (37,56%) dos 23.739 ocupados tinham carteira assinada.
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Em 2009, esse número subiu para 10.663.
Armação dos Búzios
Armação dos Búzios e Rio das Ostras, diferentemente dos demais municípios, tiveram aumento tanto do número de ocupados quanto de carteiras assinadas.
Mesmo assim, o salário médio mensal do trabalhador buziano caiu de 2,6 salários-mínimos em 2006 para 2,2 em 2009.
Segundo o IBGE, tínhamos um PEA de 9.453 pessoas no ano de 2000, de uma população total de 18.204. Desse PEA, 1.221 estavam desocupadas, o que dá um índice de 12,91% de desemprego. Entre os 8.232 ocupados, somente 2.295 (27,87%) tinham carteira assinada.
Nove anos depois, em 2009, o número de pessoas ocupadas só aumentou 2.268, alcançando 10.500. Já o número de trabalhadores com carteira assinada praticamente quadruplicou, perfazendo 8.827.
Conclusão: aumentamos muito a formalização do trabalho às custas do aumento do desemprego. Passamos de 2.295 pessoas com carteira assinada em 2000 para 8.827 em 2009.
Rio das Ostras
O salário médio mensal do trabalhador de Rio das Ostras foi o único que aumentou. Passou de 2,5 salários-mínimos em 2006 para 3,0 em 2009.
Segundo o IBGE, Rio das Ostras tinha uma População Economicamente Ativa (PEA) de 17.065 pessoas no ano de 2000. O índice de desemprego era de 15,24% (2.602 pessoas). Somente 4.391 (30,36%) tinham carteira assinada.
Nove anos depois, em 2009, o número de pessoas ocupadas aumentou de 14.463 para 19.799. O número de trabalhadores com carteira assinada subiu de 4.391(2000) para 16.875(2009).
Conclusão: para participar do bolo dos "Emirados Unidos dos Lagos”, os trabalhadores da Região vão ter seguir a recomendação daquele barbudo, amigo do que estou imitando neste trabalho: Trabalhadores da Região dos Lagos Uni-vos!
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