“Pensata
la lege, pensata la malicia, disse o italiano; que não há lei, nem traça de
governo tão considerada, a que a consideração da malícia e especulação do
discurso interessado não dêem alcance, para perverter e torcer a seu intento.”
(Anônimo do séc. XVIII. Arte de furtar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1992, p. 54)
O veto do Prefeito Mirinho Braga
ao aumento de 6.36%, aprovado no Legislativo, para o funcionalismo público traduz
a ausência de uma política de valorização dos servidores municipais. A
justificativa para o veto e o percentual de 5% oferecido pelo Executivo “pervertem
e torcem a seu intento”, tudo bem apropriado à atual gestão (ou falta dela).
Atribuir à ASFAB a
responsabilidade pela ausência de um melhor reajuste e pela não conclusão do
Plano de Carreira é a regra, já sem surpresas, de uma gestão que tem recorrido
ao fascismo para tratar o funcionalismo municipal, em que o diálogo está
aberto, desde que propostas alucinógenas não sejam questionadas. A democracia
vem sendo invariavelmente encenada e não praticada.
Sim, a atual diretoria da ASFAB
não está isenta de críticas. A falta de transparência na transformação da Associação
em Sindicato e no processo eleitoral para renovação da diretoria; o fato de que
parentes de diretores teriam cargos ou empregos na Prefeitura, em parte,
comprometem a autonomia necessária a uma gestão sindical. Em que peses seus
limites, a ASFAB tem se empenhado para promover debates e avançar na questão do
Plano de Carreiras, entre outros pleitos da categoria.
No entanto, este esforço tem se
deparado com o completo desprezo do Chefe do Executivo. Se não vejamos. Em
dezembro do ano passado, os servidores do quadro auxiliar do Ministério Público
do Estado do Rio de Janeiro tiveram seu plano de carreira apreciado pela
Assembléia Legislativa. Da apresentação de emendas à votação final, Deputados
Estaduais subtraíram algumas conquistas importantes que diziam respeito à ascensão
daqueles servidores.
As coisas são assim. Nem sempre
se ganha ou se perde tudo, porque a tal da democracia nos obriga a um
permanente estado de negociação, de luta e de vigília. No entanto, nessa
trajetória de negociações, que durou cerca de 5 anos, dois aspectos merecem ser
destacados. O primeiro é que o Procurador-Geral de Justiça do Estado empenhou-se,
pessoalmente, ao lado da Associação dos Servidores, para que o novo plano
refletisse o desejo de valorização do próprio Procurador. Em inúmeras reuniões,
foi ele mesmo que protagonizou esse desejo, rejeitando muitas propostas,
revendo outras às quais concedeu a devida razão aos servidores, e aceitando
tantas outras.
Aqui em Búzios, bem diferente, o Chefe do
Executivo grita e bate na mesa, humilhando servidores públicos. Tão desprezível
quanto isso, delega tão importante processo a uma verdadeira “traça de governo”.
Outro aspecto não menos
relevante foi o fato de que o texto encaminhado à Assembléia Legislativa foi
resultado do trabalho da Associação dos Servidores do Ministério Público, ou seja,
o Procurador-Geral de justiça trabalhou, nos últimos 3 anos, sobre o texto
proposto pela Associação dos Servidores e não o contrário, o que é bem
diferente do que está acontecendo no Município de Búzios.
Qualquer cidadão que queira ler
a proposta do Executivo, disponível no site da ASFAB, para o funcionalismo
municipal, concluirá que aquilo, entre outros problemas, se trata de
desvalorização e não de valorização, e onde são impostas derrotas inaceitáveis
aos servidores concursados, com o agravante de que, na última assembléia,
servidores descobriram que o Executivo já havia feito várias alterações, sem
sequer comunicar à Entidade.
Numa ótica ingênua, isso poderia
revelar o mais profundo obscurantismo da atual gestão, em termos de democracia.
Numa ótica mais realista, revela as intenções desta gestão: consolidar uma
política permanente de empreguismo, com grande parte dos quadros da Prefeitura
de contratados e comissionados e onde os recursos sempre faltarão para a
merecida valorização de quem prestou concurso público para o emprego público. E
é assim que os serviços públicos oferecidos à população são de qualidade cada
vez pior, em todas as áreas.
Existe, no Brasil, uma formação discursiva de
desvalorização do servidor público. O cidadão desavisado não consegue ver ou
não quer ver que são as gestões políticas as responsáveis pela destruição da
máquina pública. Enquanto a sociedade não rejeita o que deveria ser exceção e
não a regra, os interessados nesse crime contra o contribuinte vão “pervertendo
e torcendo tudo a seu intento”, já que, para eles a distribuição do emprego
público, a despeito do artigo 37 da Constituição, não é crime, é a regra.
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Se correr o bicho pega, se parar o bicho come.
ResponderExcluirQuando é que os prejudicados vão botar a boca no trombone??? Vocês são muitos, funcionários, deixem de ter medo. Que vergonha!! Respeito não é opção é obrigação. Façam greve. Quem trabalha por salário mínimo? Ninguem. Nem os contratados ganham tão pouco.Olhem a folha, no caso de dúvida.