segunda-feira, 20 de setembro de 2010

De que planeta o Sr. veio, prefeito? I

Dizem que o poder corrompe as pessoas. Dizem também que ele inebria a alma de quem o detém. Embriagados pelas benesses do poder, as pessoas ficam incapacitadas de ver a realidade tal como ela é. Fechados intramuros, comportam-se como se tivessem acabado de vir de um outro planeta, tão absurda é a avaliação que fazem da realidade terrena em que seus eleitores vivem. Como verdadeiros extra-terrestres, fazem afirmações sem o mínimo sentido e gratuitas, já que não demonstram a mínima preocupação em prová-las.

Na entrevista que deu ao Jornal Primeira Hora (por que só a este jornal? por que não uma coletiva?), de 17/09/2010, o prefeito Mirinho assim se comportou. Parecia que ele aterissou por aqui para dar a entrevista e, logo depois, partiu de volta para o seu planeta particular onde vive em uma redoma, rodeado de bajuladores vinte e quatro horas por dia,  que passam o dia inteiro pintando um cenário róseo da cidade.

O prefeito falou de quase tudo. Falou de contas públicas, obras, licitação de transporte público, saúde, moralidade, cidadania, eleição para presidente da câmara e reeleição. Como a entrevista é muito grande, vamos dividi-la em três partes, onde abordaremos os assuntos por tópicos.

1) A questão da imprensa buziana.
O prefeito falou até da imprensa buziana. Eu como blogueiro me sinto um pouco "imprensa" e, confesso, não gostei nem um pouco como o prefeito a desrespeitou quando disse que se quisesse "teríamos toda a crítica positiva em jornais da cidade", bastando apenas "comprar espaço em jornais ou comprar jornalistas". Isso é o mesmo que considerar toda imprensa de Búzios venal. E o entrevistador não fez nenhum reparo à afirmação! Lamentável.

2) A questão da herança maldita.
É incrível. Mesmo passados quase dois anos, o governo continua usando o velho argumento da herança maldita para justificar o que não foi feito. Esquece que foi ele quem começou o endividamento da cidade. Em 2004, não passou o governo ao seu sucessor legitamente eleito (uma vergonha em uma cidade civilizada), mas passou para ele um caixa com insuficiência de R$ 4.465.776,00 e um déficit orçamentário de R$ 14.440.455,57. O primeiro valor foi apontado como uma das irregularidades e o segundo valor com uma das impropriedades das contas de gestão de 2004 de Mirinho. Estes dados foram retirados dos site do TCE-RJ, que emitiu parecer prévio contrário à aprovação das contas, fato confirmado depois pela Câmara de Vereadores de Búzios.

Realmente, o governo anterior foi desastroso para a cidade. Mas tem muita gente boa que considera este governo tão ruim, e até mesmo pior que o anterior. Para ficar sabendo disso, o prefeito precisa se desvencilhar dos puxa-sacos, sair às ruas, andar de van, conversar com as pessoas no mercado. Como é prefeito de uma cidade internacional, com intensa vida noturna, poderia também sair à noite com a família. Só assim tomaria um banho de realidade. Depois desse banho, poderia aterissar na cidade.

3) A questão das contas públicas.
O governo se vangloria de ter colocado as contas em dia. Por isso, pode fazer convênios com o estado e o governo federal. O prefeito chega a afirmar que a existência de parcerias com o estado, por si só, é prova de "credibilidade e seriedade". O atual governo poderia ser um pouco mais humilde e reconhecer que um dos poucos méritos do governo anterior foi justamente começar parcerias com o governo estadual e federal, coisa que a administração pública de 1997 a 2004- gestão anterior do prefeito atual- nem chegou perto. Nessa época, o governo municipal se comportava como um governo de uma cidade do interior, fechado às influências externas e, o que é fundamental, sem gente preparada para elaborar projetos. Hoje, a prefeitura se beneficia deste legado do governo anterior. Além disso, o estado está ensinando a prefeitura como conseguir recursos federais.

4) A questão do funcionalismo público.
O prefeito fala também em valorização do funcionalismo público com a elaboração do Plano de Carreira do Quadro Geral. Se pretende valorizá-los, por que então tentar dividir a categoria cooptando  guardas municipais, como fez? O que se quer é valorizar ou dividir a categoria? Pretende uma categoria dividida, para enfraquecê-la nas negociações salariais?

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