segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tito Rosemberg

Navegando na internet encontrei uma entrevista do grande ambientalista Tito Rosemberg (foto ao lado, extraída do seu site). Não tive o prazer de conhecê-lo. Por considerar suas colocações muito atuais, as registro aqui para que sirva de objeto de reflexão.



O que é Búzios hoje (2003)
Buzios se tornou “um shopping a céu aberto, barulhenta, desordenada, mal acabada e favelizada por ricos e pobres.”
“Búzios era um Rolls Royce que preferiu tornar-se um fusquinha. Como eu adoro morar em lugares lindos e Búzios, já em 97, quando fui embora, estava num rumo muito feio, preferi seguir meu caminho. Eu posso viver bem em qualquer lugar do mundo, é só harmonizar-me com a natureza local, o que hoje em Geribá ou João Fernandes, como em outros pontos da península, tornou-se impossível.”

Nativos
“O primeiro requisito para uma cidade não ser violenta nem violentada é ter moradores que a amem mais do que amam o dinheiro. Seduzidos como os antigos índios pelo brilho dos espelhinhos, muitos nativos venderam suas belíssimas propriedades” para pessoas que “preferiram transformar a cidade num vale-tudo!”
Especulação imobiliária
“Quando o capital internacional se une a espertinhos tupiniquins visando encaixotá-la para vender, as chances de uma comunidade sobreviver são poucas, principalmente num país com tantos políticos corruptos e funcionários públicos sem ética.”
 Otavinho
"Chegou modesto na península décadas atrás e enriqueceu fazendo construções aí. Sabe como viver, tanto que isolou-se dentro de um imenso paraíso ecológico enquanto ajudava a cidade a tornar-se uma feia colcha de retalhos. É o clássico faça o que eu digo e não o que faço. Ao seu redor quer a natureza protegida, quer o barulho dos passarinhos, dos poucos animais selvagens que ainda restam na região. Mas para a plebe lá fora quer dar o cimento, os muros, o barulho, a ocupação intensa mesmo se pretensamente ordenada".
A política em Búzios
“Me lembro muito bem de quantas pessoas humildes, nativas de Búzios, vieram me procurar durante a campanha política (de 1996) dizendo que sabiam que eu os defenderia na Câmara, que era um excelente candidato mas... que fulano pagou a dentadura da mulher e ele devia este favor. Outro tinha recebido telhas para cobrir a casa do filho. Um outro havia sido ajudado por um candidato para conseguir uma operação para seu irmão. E assim votariam nele. A política buziana é feita assim, ao estilo Macunaíma bem brasileiro, e eu conheço centenas de casos iguais. E se os eleitores são corrompíveis e vendem seus votos, que políticos eles elegem? Quem corrompe os eleitores? Um cara honesto e bem intencionado? Claro que não! Por isto acho que sem a participação da população organizada, só picaretas chegarão ao poder, e uma vez lá estarão à serviço de quem pagar mais. São os “políticos-táxi”, pagou – levou!”
Pornografia político-partidária buziana

“Vejo nestes dias a enésima tomada vergonhosa do Partido Verde de Búzios, outrora respeitado como polo gerador de discussões filosóficas de valor relevante, e hoje verde porque é com o “outro” verde que agora se faz política. É com imensa tristeza que vejo a atual pornografia político-partidária buziana, onde as pessoas não aglutinam-se em torno de uma idéia, mas sim de um lucro, um golpe, uma triste cena que me envergonha e me fez em 96 retirar meu nome do Partido Verde que não mais representava a ética na política, uma idéia que sempre me seduziu. Neste cenário onde partidos estão à venda, só a aglutinação dos moradores em torno de suas associações pode impedir com que estes picaretas continuem defendendo seus interesses particulares. Cidadãos éticos, preocupados com suas comunidades tem que se unir organizadamente para contrabalançar as forças deste mal que corrói a nossa política.” 
Perseguição política em Búzios

“Me lembro de comerciantes vindo me dizer que um prefeito havia pedido a eles que não anunciassem no jornal que fundei, e dirigi, pois eu seria um “traidor” da comunidade. Recebi ameaças de morte pelo telefone, e avisos assustadores até de pessoas que hoje já não estão mas vivas. Soube de fontes mais do que confiáveis de uma reunião na casa de um famoso arquiteto onde discutiu-se sobre “como dar uma lição” em mim, envolvendo até a possibilidade de uma surra. Aí fiquei assustado. Um prefeito-pasteleiro de Cabo Frio, hoje tragado pela sua própria insignificância histórica (alguém se lembra dele?), mandou publicar nos jornais de Cabo Frio uma “nota de repúdio” acusando nosso jornal de “racista”, logo o jornal mais dedicado às causas sociais. Uma acusação que me deu trabalho para mostrar que era apenas a sub-política manipulando gente pouco inteligente. Felizmente me saí bem, mas vi como pessoas desonestas podem chegar até a dirigir a prefeitura de uma cidade importante. Felizmente a história não compra pastéis de vento.”
Ser ambientalista em Búzios 
“A qualidade de vida que eu tanto amava e precisava estava cada dia pior. A situação da água e do esgoto agredia a cidade, os especuladores imobiliários, unidos a arquitetos e engenheiros inescrupulosos faziam campanha cerrada contra nós ambientalistas e a população não nos endossava.”
O movimento comunitário

“Mas estou muito feliz por notar que já existe em Búzios uma comunidade diversa de amantes da cidade, aqueles que mesmo sendo comerciantes e hoteleiros endossaram a proposta do desenvolvimento sustentável, que significa tentar preservar o que ainda restou da belíssima natureza e da comunidade buziana. Com a união de todas as vertentes do movimento comunitário, inclusive a dos poderosos comerciantes e hoteleiros, Búzios poderá conter o crescimento desordenado e encontrar a qualidade de vida que merece, pois ainda é um dos lugares muito poderosos do planeta.”

Meio ambiente de Búzios
“ Vejo que o cimento ainda é o grande vetor da economia, e muito mais construções do que deveriam ter. A ocupação das encostas deu uma tristeza danada, e as valas negras saindo nas praias, como em Manguinhos, deram vontade de chorar.”
A favelização de Búzios
“Sou convidado a falar sobre o processo de favelização de Búzios e como evitar que se repita aqui a tristeza que se passou aí, e ainda não terminou. A história da degradação do “destino-Búzios” já está sendo útil para que os cidadãos de Jericoacoara não caiam na mesma cilada. Sempre mostro as fotomontagens que fiz em 1995 prevendo uma hecatombe imobiliária em Búzios.”
Os golpistas da cidade
“ Depois de ser vítima de dois estelionatários que compraram coisas minhas e nunca pagaram, me causando profunda tristeza, passei a sentir-me mal quando visitava a península porque os via transitando normalmente pela cidade e sendo aceito pela comunidade. Como nestas coisas sou meio radical, tomei um bode das pessoas que compartilham mesas de bar com gente desonesta. Aliás, esta é uma coisa que sempre me deixou curioso: porque em Búzios há tanto espaço para golpistas?”
As moscas e os mosquitos de Búzios

“Aliás, passei por uma experiência surrealista quando estive aí da última vez há poucos meses: fui com amigas beber num gostoso barzinho de frente para o mar perto da Escola João de Oliveira Botas, e ver o glorioso por do sol que aí é dos mais lindos do mundo. Barcos no horizonte, céu vermelho, mar roxo, nuvens violetas, um espetáculo esplendoroso e nós embasbacados. Quando de repente uma nuvem imensa de mosquitos nos atacou com tal ferocidade que todos os clientes se levantaram e fugiram correndo, o barzinho fechou e até quem passava pelo calçadão teve que correr para fugir do ataque doloroso destes insetos de tão fácil controle. Pude perceber que alem de estar entregue às moscas, Búzios estava também entregue aos mosquitos e a insensibilidade dos responsáveis. Nunca vi tantos mosquitos fazendo as pessoas correrem de medo. Me deu uma baita tristeza e muita coceira.” 
Entrevista dada ao Jornal de Búzios, julho de 2003.

Para ver a entrevista completa acessar http://360graus.terra.com.br/titorosemberg/index.htm

Comentários:

Adriana Di Macedo disse...
Olá! Bela entrevista! Nunca vi tanta sinceridade. São cidadãos que falam o que pensam e buscam o que é seu por direito que Búzios precisa! Valeu Luiz, valeu Tito! Um abraço! Adriana Di Macedo
luiz do pt disse...
Adriana, obrigado pela visita, pelo comentário. Um abraço, Luiz
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2 comentários:

  1. Olá! Bela entrevista! Nunca vi tanta sinceridade. São cidadãos que falam o que pensam e buscam o que é seu por direito que Búzios precisa! Valeu Luiz, valeu Tito! Um abraço! Adriana Di Macedo

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  2. Adriana, obrigado pela visita, pelo comentário. Um abraço, Luiz

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